Apaguem este fogo…

Foto de Hugo*

No meio da confusão que se está a tornar a guerra entre a Microsoft e Yahoo, agora começou mais um problema para Jerry Yang (CEO do Yahoo). Segundo a Reuters dois fundos de pensões de Detroit, mais precisamente os fundos da polícia e dos bombeiros, decidiram processar a direcção do Yahoo, por não aceitarem a oferta “fabulosa” da Microsoft.

Os fundos pretendem que as acções em tribunal impeçam a direcção do Yahoo de tomar medidas defensivas e também o possível negócio com a AOL ou com a News Corp. do Rupert Murdoch obrigando a direcção a reconsiderar a oferta da Microsoft.

Entretanto as acções em tribunal cresceram durante as últimas semanas depois da rejeição da OPA por parte da direcção do Yahoo, mostrando que os accionistas estão descontentes e culpam a pouca simpatia do Jerry Yang pela Microsoft pela rejeição.

Esta é a beleza da economia mundial que hoje em dia é dominada pelos fundos (sejam de pensões ou outros) cujo objectivo é exclusivamente o de conseguir 15% ao ano. Acontece que o a oferta da Microsoft é 61% superior ao valor da cotação em bolsa o que para qualquer fundo que tenha acções é motivo mais que suficiente para vender. Como qualquer fundo, o objectivo não é ser accionista, mas antes fazer os tais 15% de returns ao ano…

Nos próximos tempos penso que vamos assistir a mais situações destas de forma a pressionar a direcção do Yahoo. Por outro lado se o Yahoo conseguir um parceiro estratégico rapidamente, pode evitar mais chatices e evitar perdas maiores.

Ver ainda:

Sobre a guerra Microsoft Yahoo

A proposta de compra do Yahoo por parte da Microsoft parece que pode rebentar numa guerra. Pelo menos se atendermos à rejeição por parte do Yahoo da OPA. Mas poderá mesmo assim o Yahoo entrar nesta guerra? Qual o verdadeiro objectivo da Microsoft?

Começando pelo Yahoo: Está com uma posição fragilizada, porque desde há cerca de um ano onde a cotação andava em torno dos 30$ que tem vindo a cair lentamente atingindo alguns dias antes da OPA o valor mínimo de 21$. Um valor óptimo para agradar à Microsoft. Para além disso a empresa não tem conseguido inverter a descida nos resultados e aproximar-se do Google em termos do mercado de pesquisa. Mercado este que só é útil porque permite vender publicidade e na publicidade normalmente quem tem a maior fatia leva tudo… (ou quase). Para além disso pretendia ainda despedir cerca de 1000 funcionários.

Assim, o Yahoo estava a jeito para que alguém o tentasse comprar. A Microsoft olhou para o valor das acções do Yahoo e atirou-se no dia 1 de Fevereiro (é também curioso como as acções do Yahoo subiram em flecha nos dias anteriores a se saber da proposta da Microsoft? Hm? Inside Trading? Será que alguém desatou a comprar Yahoo na administração da Microsoft?). Curiosamente a Microsoft e Yahoo juntas continuam a ser mais pequenas que o Google no mercado dos motores de busca e publicidade online, o que torna cria algumas dúvidas quanto à compra. Mas isto tudo passa por uma estratégia de expansão da Microsoft para outras áreas de mercado atacando aquele que tem sido até agora o monopólio do Google (75%).

O Google foi aliás o primeiro a reagir a uma possível compra através do seu blog oficial procurando fazer a vida negra à Microsoft (aliás da mesma forma como a Microsoft fez ao Google quando este comprou a Doubleclick).

Entretanto começaram os rumores que a direcção do Yahoo iria rejeitar a oferta de aquisição por parte da Microsoft e surgiram rapidamente as “alternativas”. Estas “alternativas” não são mais do que a jogatana negocial comum neste tipo de situações.

Fala-se na possibilidade da Yahoo comprar a AOL para desmotivar a compra da Microsoft, fala-se que a Apple poderia comprar o Yahoo, fala-se de uma aliança entre Yahoo e Google… … ok, fala-se tudo porque no final a direcção do Yahoo acabou por rejeitar a venda, mas não fechou completamente as portas a um “aumento” de preço…

A Microsoft não perdeu tempo a dar o passo seguinte e já anunciou que talvez a decisão da direcção do Yahoo não seja a mesma que a dos accionistas. Quer isto dizer que vai à guerra e se conseguir convencer alguns grandes accionistas a vender, estes irão fazer muita pressão dentro do Yahoo.

A lógica do Yahoo de rejeitar à espera de mais dinheiro é tentadora, mas a verdade é que havia muitos accionistas prontos para vender (a Microsoft ofereceu 65% mais que o valor da véspera) e quando a direcção rejeitou a oferta, as acções caíram novamente. Numa situação destas, normalmente a empresa mais pequena tem poucas hipóteses para fugir. Atendendo a que o negócio não está a correr bem e nos próximos tempos vai tomar decisões baseadas na ideia de aumentar o valor da OPA em vez de decisões para melhor o seu negócio, a pressão para o lado do Yahoo são enormes.

Seja qual for o desfecho desta guerra, há para já um vencedor claro. O Google, que vê a sua posição reconhecida e ainda por cima com um papel activo, fazendo lobby para proteger o seu monopólio. Por outro lado a Apple que se decidir estragar o negócio à Microsoft vai ter na direcção do Yahoo uma direcção muito amiga de Cupertino. Se o negócio se concretizar o Google mesmo assim ainda tem uma folga da talvez um ano até que a combinação Microsoft-Yahoo comece a fazer efeito, porque estas compras levam sempre algum tempo a acontecer e embora o Google já não tenha a capacidade de mudar como antigamente, ainda consegue ser mais rápido de rins que a Microsoft.

Há também um perdedor. O Yahoo. Porque não sairá desta guerra da mesma forma como entrou. Depois de ser uma das poucas empresas Web 1.0 a ter sobrevivido ao Crash das dot.com o Yahoo vai precisar de muita imaginação para sobreviver novamente, porque mesmo que não casando com a Microsoft, muito provavelmente terá que forjar outro tipo de alianças que no futuro o deixarão fragilizado.